Data: 17/11/2015
Local: Sala Newton Lopes
Horário: 16:00
Organização: Prof. Francisco de Oliveira Barros Junior/Departamento de Ciências Sociais
Akira Kurosawa representa um fazer cinema com sutilezas, profundidade e delicadeza. Tais características ganham concretude no belíssimo O ANJO EMBRIAGADO. Um filme que possibilita uma rica reflexão sobre a nossa humanidade. Quem é a “angelical” criatura? É o doutor Sanada, um abnegado médico que desenvolve o seu trabalho em um território representado por um poço fedorento. Uma região conflituosa, onde gangues rivais disputam o comando do pedaço. É em tal contexto que um humanista profissional da medicina pratica o seu ofício. Um modelo terapêutico seguido por quem está a serviço dos excluídos. Despudorado, ele anda pelas ruas ao encontro dos seus pacientes, entre os quais estão alguns criminosos. Alcoólatra, Sanada revela a ambiguidade de todos nós. Os personagens apresentam várias facetas. Okada mata e toca, no violão, a “canção do assassino”. Ele e os seus chefiados zelam por um “código de honra e lealdade”. Somos contraditórios e o cineasta filósofo Kurosawa foi fundo na sua compreensão sobre as potencialidades humanas. Um dos pontos mais marcantes de O ANJO EMBRIAGADO é a relação construída entre Sanada e o seu paciente tuberculoso Matsunaga, um dos chefes da facção Yakuza. É tocante o desdobramento da afetividade entre ambos. Sanada faz um raio X profundo da situação do complexo homem que está sob os seus cuidados: “Não é somente os pulmões que estão doentes. É como se ele estivesse doente até a alma. Ele se faz forte e anda com o ar de superioridade, mas no coração, sabe que está perdidamente sozinho. Ele ainda tem uma consciência que o atormenta. Seu coração não congelou com o mal, ainda”. É a fala humanizada de um profissional da saúde consciente de que somos biopsicossociais e multidimensionais. Na cena final, o Dr. Sanada sintetiza o seu olhar sobre a tragicomédia aventura dos homens com uma receita sem contra-indicações: “Uma abordagem racional é o melhor remédio para a vida”.